5 Mitos Sobre os Padres Casados no Catolicismo Oriental

Muitas pessoas acreditam que a disciplina oriental de ordenar homens casados para o ofício sacerdotal, contradiz a disciplina ocidental do celibato. Aqui, demostrarei o porquê dessa crença ser errônea.

Em discussões sobre o celibato sacerdotal, a prática das Igrejas Católicas Orientais é frequentemente ignorada ou mal compreendida. Muitas pessoas não tem consciência de que existem centenas de padres católicos casados que servem nas Igrejas Bizantinas unidas a Roma.

A Igreja Católica não é uma instituição monolítica e uniforme. Na verdade, o catolicismo é formado por 24 igrejas sui iuris (administração própria) que “celebram sua própria disciplina, seus próprios costumes litúrgicos e sua singular herança teológica e espiritual” (Lumbem Gentium, no. 23). A Igreja Latina é a maior dessas igrejas, mas há também outras 23 Igrejas “Católicas” de herança oriental. Estas Igrejas estão em comunhão plena com a Sé Apostólica Romana e junto da Igreja Latina, formam a única Igreja Católica. A Igreja Romana e as Igrejas Católicas Orientais compartilham do mesmo papa (Papa Francisco), os mesmos sacramentos (incluindo a eucaristia) e a mesma fé, ainda que as 24 Igrejas possuam seu próprio modo de expressão teológico.

A prática de se ordenar homens casados ao sacerdócio vem de longa data no catolicismo oriental. Alguns sites, as vezes, afirmam que nossas igrejas permitem que “padres se casem” ou que não temos a prática celibatária. Estes e outros mitos dão a falsa impressão que a disciplina das Igrejas orientais, contradiz a prática latina do sacerdócio celibatário, porém, como iremos ver neste artigo, as duas disciplinas não estão tão distantes como parecem ser.

Mito 1: Católicos Orientais não valorizam o celibato.

No catolicismo oriental o celibato é reconhecido como um presente para à Igreja. Quando um homem ou uma mulher escolhe seguir o exemplo de Jesus através do celibato, essa escolha é celebrada como um testemunho escatológico para o mundo.

Além disso, a vida monástica é tida como a  ideal no catolicismo oriental. Monges, homens ou mulheres, são honrados como mães e pais espirituais. O monasticismo é o coração da espiritualidade do catolicismo oriental e há tradicionalmente grande presença monástica nas Igrejas Católicas Orientais.

Há também um paralelo entre as sagradas ordens e o celibato no oriente católico. Essa é a razão do porquê os bispos, que possuem a plenitude do sacramento da ordem, são sempre celibatários. Enquanto homens casados podem ser ordenados a diáconos e padres, somente homens celibatários são ordenados ao episcopado.

Mito 2: Padres católicos orientais “podem se casar”.

Este é o mito mais perverso quando falamos desse assunto. Enquanto um homem casado pode ser ordenado para o diaconato ou sacerdócio, homens já ordenados não podem se casar. Se um padre ou diácono casado fica viúvo, obrigatoriamente ele deverá abraçar a vida celibatária (no caso, a monástica).

Nesse ascpecto, a disciplina no catolicismo oriental é identica a regra canônica na Igreja Latina em relação aos diáconos casados. Um homem casado pode ser ordenado, um homem que já é padre, não tem o direito de contrair matrimônio.

Mito 3: A disciplina das Igrejas Católicas Orientais é uma “aberração”.

Quando se defende a disciplina latina do sacerdócio celibatário, corre-se o risco de denegrir a disciplina oriental. Tenho presenciado autores católicos se referindo a prática oriental como uma “aberração” ou um “erro” que é tolerado por amor da unidade católica. Alguns até mesmo afirmam que a existência de padres orientais casados, representa uma espécie de deficiência na fé.

Em contraste a essas afirmações, temos o ensino oficial católico que respeita o modo oriental de ordenar homens casados. Veja, por exemplo, o “Código dos Cânons das Igrejas Orientais” que foi promulgado por São João Paulo II. No documento é afirmado que “a santa prática de clérigos casados na Igreja primitiva e na tradição das Igrejas Orientais através dos anos deve ser considerada em alta estima” (can. 373). Afirmações semelhantes são encontradas em outros documentos, como no “Catecismo da Igreja Católica”, onde é afirmado que a prática oriental de ordenar homens casados ao sacerdócio “é considerada legítima e estes padres exercem um ministério frutoso junto de suas comunidades” (CIC 1580).

Argumentos relacionados ao celibato obrigatório que denigram ou que tirem a legitimidade dos padres casados, são problemáticos, já que acabam atacando uma disciplina que é praticada na Igreja Católica. Além disso, são ataques contra padres católicos que servem de forma legítima as Igrejas Orientais em união com o Bispo de Roma.

É possível defender a disciplina latina sem que para isso, os padres casados sejam denegridos. Veja por exemplo o texto “The Theological Basis for Priestly Celibacy” escrito pelo padre Max Thurian. Ele faz um trabalho primoroso em vias de defender o celibato, sem que para isso, fira nossas práticas que são, diga-se de passagem, igualmente católicas.

Mito 4: As familias dos padres casados sofrem com a negligência.

Um argumento muito repetido é de que padres casados estão divididos entre duas vocações – matrimônio e sacerdócio – e não podem viver adequadamente nem um e nem outro. É rotineiramente repetido que um padre casado não teria tempo suficiente para ser marido ou padre e que por esse motivo, no final das contas, sua esposa e seus filhos sofreriam.

Este argumento de que não haveria tempo para um homem ser marido e padre pode até ser aplicado para a Igreja Latina, mas a situação no catolicismo oriental é diferente. A presença de padres casados está inserida na cultura oriental e por tanto, padres, suas esposas e os fiéis estão geralmente acustumados e por isso, o equilibrio na Igreja é mantido com tranquilidade. Um típico padre oriental não é mais ocupado que um médico ou um policial e normalmente, tem até mais tempo para se dedicar a sua família.

Sendo assim, à Igreja de Roma opera diferente e creio que levaria um bom tempo para que padres casados no ocidente funcionassem nesse contexto.

Mito 5: Padres casados são ineficientes em seu pastoreio.

No mito anterior, o padre é consumido pelas obrigações familiares e portanto, pouco caso faz da vida espiritual dos seus paroquianos. Pois bem, isso é uma generalização que poderia ser até verdade no contexto latino, mas, não reflete a realidade do catolicismo oriental.

Em minha experiência, a vida matrimonial de um padre tem pouca influência em sua eficiência como um sacerdote. Eu conheço padres celibatários que são maravilhosos pastores, mas também, tenho presenciado incríveis padres casados. Meu padre atual é casado e um grande modelo de santidade. Ele trabalha em duas paróquias e ambas, estão florescendo espiritualmente. Por outro lado, tenho visto padres celibatários e casados negando os devidos cuidados espirituais a seus paroquianos.

Concluindo – Respeitando as duas tradições

Estas observações são baseadas em minha experiência no catolicismo oriental. A Igreja Latina opera de uma forma, com suas próprias necessidades e expectativas. Só porque um padre casado trabalha no oriente, não significa que isso funcionaria no ocidente. A disciplina Latina tem um valor enorme e há uma série de importantes razões para mante-la. Por essa razão, qualquer mudança nessa disciplina, deve ser vista com cuidado e atenção.

Da mesma forma, aqueles que argumentam em favor do celibato latino, devem se lembrar que existem inúmeros padres casados que fielmente, servem em Igrejas Católicas Orientais. Argumentos em favor do celibato, por regra da próprio Igreja, devem se abster de generalizações que pintam padres casados como deficientes na fé ou aberrações. Esses sacerdotes também são católicos e merecem o mesmo nível de tratamento dado aos padres celibatários.

Da mesma forma, aqueles que argumentam em favor do celibato latino, devem se lembrar que existem inúmeros padres casados que fielmente, servem em Igrejas Católicas Orientais. Argumentos em favor do celibato, por regra da próprio Igreja, devem se abster de generalizações que pintam padres casados como deficientes na fé ou aberrações. Esses sacerdotes também são católicos e merecem o mesmo nível de tratamento dado aos padres celibatários.

Traduzido por: Érick Augusto Gomes

Autor: Diácono Anthony Dragani; Professor de estudos religiosos do “Mount Aloysius College” em Cresson, Pennsylvania. Como diácono católico oriental, Anthony serve em duas paróquias em western Pennsylvania.

Fonte: https://www.ncregister.com/blog/5-myths-about-married-priests-in-eastern-catholicism




Categorias:Catolicismo Oriental

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