Link: https://melkite.org/faith/faith-worship/does-it-matter-that-we-are-melkites
Tradução: Érick Augusto Gomes
Durante muitos anos, devido a uma infeliz preocupação com as coisas ocidentais, muitos católicos melquitas enxergavam suas tradições somente como um tipo de rito ou liturgia diferente, isto é, a liturgia não era vista como algo único, autêntico e totalmente integrado a mensagem do evangelho. Apesar da coragem de nossoa patriarca em sacudir as estruturas do ocidente latino em vias de restaurar a Igreja Bizantina em seu devido e correto lugar, existem, ainda, muitos que são atraídos pelas devoções ocidentais, serviços e rito litúrgico, dizendo: “qual é a diferente, afinal, somos todos católicos, latinos ou melquitas, culturamos o mesmo Deus, as mesmas coisas, podemos realizar nossas obrigações da mesma forma”. Isto é, esses católicos escolhem aquilo que os agrada e incorporam ambas as tradições em sua espiritualidade.
O ponto é que na Igreja Greco-Melquita, nós não olhamos para a Igreja como uma obrigação, há uma diferença! O culto divino não é algo onde nós somos obrigados a estar, uma hora na semana do domingo. A nossa tradição, é uma forma de vida – toda a nossa vida! A forma como nós enxergamos a nós mesmos como filhos de Deus – a família de Deus. A Igreja é o sinal visível de uma realidade invisível, onde os fiéis já são membros do “reino”. Todo domingo na Divina Liturgia, nós celebramos a vitória de Cristo sobre a morte conquistada por e para nós quando nós fomos batizados e trazidos para o ceio da família de Deus – isto é, na Igreja. A Igreja Melquita é a comunidade do Espírito Santo, onde novas relações são construídas, novas formas de partilha, celebração, pensamentos, relação e etc. Somente a teologia cristã oriental oferece essa visão terrena de um novo tipo de homem em Cristo, um novo tipo de sociedade em Cristo, no qual, nós chamamos de Igreja. O Cristianismo oriental contempla a encarnação com a ressurreição e transfiguração: o poder de transformar o homem e seu universo. Possivelmente, o melhor caminho para transmitir nossa tradição é pontuar a distinta diferença do ponto de vista religioso e devocional entre a Igreja Romana e a Igreja Melquita. Quando nós descobrimos o quão contemporânea, libertadora e dinâmica é nossa teologia em comparação com o ocidente – quando nós descobrimos a riqueza de nossa própria espiritualidade, tudo o que é manifesto de forma harmoniosa com a nossa iconografia, música e liturgia – “ser um melquita”, claramente se torna uma questão muito mais de escolha do que de um mero acidente de nascimento.
Um ponto importante dessa diferença (ocidente x oriente) é que nós somos pessoas ressuscitadas – nós não rezamos para salvar nossas almas – e nós não nos preocupamos se merecemos o céu por sermos suficientemente piedosos, estudiosos ou termos ações que são prescritas como modelos do desenvolvimento espiritual da Igreja Ocidental. Em nossa tradição, nós já estamos no reino e nossa regra não é salvar a nós mesmos, mas, crescer na divinização para sermos como um outro Cristo. Nossa tradição não é fromada por regras ou receitas de “como se fazer algo”, colocando todo o fardo nas costas dos homens para indicar o que ele precisa fazer, ou conseguir para ir para o céu depois da morte, mas na verdade, cremos em uma fé baseada na experiência e construída no relacionamento com o “Deus-Trindade”, que nos transforma e nos faz “novas criaturas” assim que nos abrimos para Deus através da oração e recebemos seu amor deificador. Nós não precisamos viver com dúvidas a respeito das realidades finais e sobre o que irá acontece após a morte – céu ou inferno? A escolha é nossa. Nós exercemos nosso livre-arbítrio para escolhermos ser como Deus ou se fecharmos para Ele e colocá-lo em uma prisão de nosso próprio ego, onde a única face que nós veremos por toda a eternidade é a nossa própria. Quando nós somos centralizados em si mesmo, é impossível amar. Nós precisamos transcender a nós mesmos, precisamos amar. Deus fez isso por nós e continua carregando nosso fardo. Em nossa Igreja, nós chamamos isso de reciprocidade entre Deus e o homem, isto é, uma “sinergia”. Deus trabalha conosco, assim que de forma consciente, nós centramos a Trindade em nosso coração.
Esse é o motivo do porquê nossa tradição é contemplativa e não ativista. Em silêncio, profundidade, foco na oração, nós permitimos que Deus nos transforme em sua “semelhança” e nos mova para fora em “diaconia” (serviço) para os outros. Este processo continua por toda a eternidade. Isso não termina com a morte física. A religião é relevante para viver agora e por toda a vida. Estas são regras espirituais para o sucesso nesta vida e além dela. Para os melquitas, não há diferença entre o natural e o supernatural. O supernatural é natural para nós. Nós não precisamos sofrer agora e esperar pela morte física, a fim de experimentar as alegrias do paraíso. Há uma diferença! Nosso santuário é velado pela iconóstase: os ícones, as testemunhas tangíveis do mistério em nossa liturgia; é a simbólica porta de entrada para o reino dos céus. A Igreja não é o resultado de uma organização humana, tão pouco criada por leis, regras ou uniformidade das mãos dos homens.
A mente melquita enxerga a Igreja, não como uma sociedade visível encabeçada por Cristo, mas como uma teofania, isto é, a eterna ruptura no tempo e o desdobramento da vida divina através da transformação deificante da humanidade em adoração. A vida na Igreja é falado em termo de glória, luz, visão, união, transfiguração e deificação. O vocabulário jurídico de poder, ordem, direito e justiça é pouco conhecido. O uso de termos isolados dá uma conotação mais positiva, alegre e dinamica sobre a religião, mais que algo austero e iminente. A arquitectura românica, com os seus arcos de volta perfeita, dá-nos uma sensação segura de estarmos envolvidos, ao invés dos pináculos estreitos e ascendentes típicos da arquitectura ocidental que nos deixa sentir abandonados, espiritualmente indigentes e distanciados de Deus. Na Igreja Melquita, nós rezamos na riqueza e total dignidade de Deus e não na miséria e pobreza do homem. A mente ocidental vê os aspectos morais dos sacramentos e da vida espiritual e a força recebida deles como um auxílio em sua peregrinação em direção à bem-aventurança final, o que para eles não é uma certeza. Para o ocidental, a graça é um princípio de ação meritória que restaura no homem a capacidade de boas obras. Para nós, o homem é uma semelhança imperfeita de Deus, que a graça aperfeiçoa. A vida em Cristo é transformação progressiva à semelhança de Deus (teologia do processo). Falamos mais de divinização e transfiguração à “semelhança” de Deus e menos de mérito, satisfação e bem-aventurança.
A providência divina trouxe a um lugar na história do ecumenismo onde temos a responsabilidade para com a igreja universal de sermos nós mesmos. A Igreja Romana não pode ser católica (universal) sem a Igreja Oriental. A Igreja para ser verdadeiramente católica, deve respirar com os dois pulmões – Oriente e Ocidente. Parece que à luz dos acontecimentos ecumênicos, nós, melquitas, deveríamos estar mais conscientes de que temos uma vocação indispensável para ensinar e nos apresentar a toda a Igreja.
Mais ainda, devemos nos redirecionar nas doutrinas e escritos dos Padres Orientais e manter o que eles representam. Fazer o contrário é perpetuar uma esquizofrenia eclesiástica entre nosso povo melquita. Somos católicos romanos ou católicos melquitas? Não! Não somos católicos romanos que fazem algumas coisas um pouco diferente da Igreja latina. Temos nossa própria identidade! Temos uma teologia, tradição, espiritualidade, liturgia e direito canônico distintos e separados – que não se opõe ao catolicismo romano, mas o complementa. Constitui um ser humano na visão de Deus, e do mundo ao nosso redor, que não é mau, mas pertence a Deus. Não podemos ser casuais sobre isso. A indiferença contínua resultará em cidadania de segunda classe e eventual perda de nossa identidade.
Categorias:Catolicismo Oriental
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